sexta-feira, 14 de agosto de 2009
A sabedoria essencial do budismo
A sabedoria essencial do budismo
O QUE É O BUDISMO
Entrevista com Sua Santidade Sakya Trizin
PERGUNTA: Por que devemos praticar os ensinamentos budistas?
RESPOSTA: Gostaria de responder à sua pergunta descrevendo os três tipos de pessoa que pratica o budismo: o pequeno, o médio e o elevado. E falando de maneira genérica, desde o pequeno inseto até o mais inteligente ser humano têm um ponto em comum: todos desejam ser felizes e todos desejam evitar o sofrimento.
Mas a maioria dos seres humanos não compreende qual é a causa do sofrimento, e qual é a causa da felicidade. Pois os ensinamentos budistas e a sua prática poderão dar uma resposta satisfatória a estas questões.
PERGUNTA: Quais são as causas do sofrimento e da felicidade?
RESPOSTA: No "Ratnavali", Nagarjuna diz: "Toda ação que nasce do desejo, da aversão e da ignorância produz sofrimento; toda ação que nasce da ausência de desejo, de aversão e de ignorância produz felicidade".
Mas como eu ia dizendo, existem aqueles três tipos de praticantes: o pequeno, o médio e o elevado. Como todos os outros seres, o praticante PEQUENO deseja ser feliz e não deseja nem o sofrimento nem o nascimento nos reinos inferiores de existência. Por isso ele pratica o budismo para criar as causas de renascimento no reino dos humanos ou nos reinos celestiais dos deuses. Este tipo não tem o poder, ou não tem a coragem de deixar completamente o mundo da existência. Ele apenas deseja a melhor parte do mundo da existência. Deseja evitar a pior parte, é por esta razão que pratica a religião budista: para conseguir um renascimento mais elevado.
Agora o tipo MÉDIO compreende que a totalidade do mundo da existência, não importa onde ele renasça , é sofrimento pela sua própria natureza. Ele deseja livrar-se de tudo, deseja atingir o nirvana, o estado que está além do sofrimento.
O praticante ELEVADO compreende que, assim como ele não deseja o sofrimento, e deseja a felicidade, da mesma maneira todos os seres vivos têm os mesmos medos e os mesmos desejos. Ele sabe que, desde que vimos renascendo repetidamente desde um tempo sem princípio no mundo da existência, não existe um único ser consciente que não tenha sido nossa mãe ou nosso pai em alguma ocasião. E como nós estamos tão pertos de todos os seres conscientes, o praticante elevado é aquela pessoa que pratica o budismo para retirar todos esses incontáveis seres do mundo do sofrimento.
PERGUNTA: Como devemos praticar?
RESPOSTA: O início de toda prática budista consiste em duas coisas fundamentais: A meditação das quatro recordações e a tomada de refúgio. As quatro recordações são:
l. A dificuldade de conseguir um nascimento humano.
2. A impermanência de todas as coisas samsáricas.
3. O sofrimento do mundo da existência.
4. A lei do carma, que significa causa-e-resultado.
De um modo geral, é muito difícil nascer como ser humano [1]. Nós pensamos que há muitos seres humanos, mas se nós compararmos com a quantidade dos outros seres veremos quão pouco somos. Por exemplo, em cada um de nossos corpos existem milhões de germens, micróbios, virus e assim por diante.
Sobre a impermanência [2] o Buda disse: "os três reinos da existência são como nuvens no outono". Nós só temos certeza de duas coisas: a morte é certa e não sabemos quando ela chegará.
Depois [3], não importa onde você esteja, lá chegará o sofrimento: ou o sofrimento do sofrimento, ou o sofrimento da mudança, ou o sofrimento da existência condicionada. O exemplo do primeiro pode ser uma dor qualquer; o segundo é claro, fácil de perceber; o terceiro significa a insatisfatoriedade da atividade humana: nós nunca estamos satisfeitos para sempre.
A outra recordação [4], é o carma. Todas as coisas que fazemos têm uma causa no passado. Se você quiser saber o que você foi no passado, observe a sua situação presente. E o futuro, feliz ou infeliz, vai depender do que você está fazendo hoje. Se a raiz de uma árvore é medicinal, as flores, folhas serão medicinais.
Finalmente, tomar refúgio marca a diferença entre budistas e não budistas. Refúgio significa que você renuncia e que se asila.
PERGUNTA: De que maneira renuncia?
RESPOSTA: Você renuncia de si mesmo. Quando você está doente procura o melhor dos médicos. Assim, quando você deseja proteger-se do sofrimento da existência mundana, toma refúgio na tríplice jóia: o Buda, que é o guia; o Dharma (ou religião) que é o caminho; e a Sangha que são os companheiros espirituais. Mas em última análise o refúgio está apenas no Buda, que é o refúgio final. O Buda são os três corpos do buda: o "Dharmakaya", ou corpo verdadeiro; o "Sambhogakaya", ou corpo de bênçãos; e o "Nirmanakaya", ou corpo aparente. O praticante assim reza:
"Eu tomo refúgio no Buda, no Dharma e na Sangha até atingir a iluminação; pelo mérito de fazer desta maneira, possam todos os seres alcançar o estado de Buda".
Esta prece deve ser dita do fundo do coração, o maior número de vezes possível.
PERGUNTA: Os budas sofrem?
RESPOSTA: Não, eles não sofrem. Eles estão absolutamente livres do sofrimento.
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