INSTRUÇÕES
BÁSICAS PARA O EXERCÍCIO DA MEDITAÇÃO
(SATIPATTHANA
VIPASSANÃ)
Mahasi
Sayadaw
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PREFÁCIO
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O “Guia Prático do Curso de Meditação Vipassana”
(em dois volumes) é um tratado escrito por Mahasi Sayadaw, Aggamahapandita
Bhaddanta Sobhana, Maha Thera. O primeiro volume contém uma explicação dos
princípios fundamentais para a prática da Meditação Vipassana, de acordo com o
Satipatthana Sutta na sua forma tradicional. O segundo volume trata do aspecto
prático da Meditação Vipassana. Nele estão contidas todas as lições sobre os
exercícios que devem ser feitos durante o treinamento, como a experiência
pessoal e adquirida e como o conhecimento da Vipassana e desenvolvido
gradualmente. Há também una descrição completa dos vários graus do conhecimento
de Vipassana através da comparação da experiência ganha durante a prática e
sobre este ponto, muitas autoridades no assunto são citadas.
A presente tradução se refere exclusi vamente as
primeiras catorze páginas do volume segundo, que contém somente um resumo das
instruções sobre a prática dos exercícios básicos. Este trabalho foi feito para
suprir a necessidade dos praticantes de outras nacionalidades, os quais, de
tempos em tempos, vinham ao Centro de Meditação Mahasi Satipatthana Vipassana,
em Thathana Yeuktha, Rangoon, com o propósito de participar do Curso Intensivo
de Treinamento da Meditação. Ele é apenas um resumo das lições práticas e será
muito útil como informação para os principiantes que participem do Curso, sob
orientação, até que os mesmos completem satisfatoriamente o treinamento,
ganhando experiência e conhecimento na meditação prática.
U PE THIN
Mahasi Yogi
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MÉTODO PARA PRÁTICA DA CONTEMPLAÇÃO
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Os exercícios que devem ser praticados para
desenvolver a contemplação e os vários graus da “Introspecção” (Vipassanã Nãna)
serão descritos de acordo com a experiência adquirida. Para os principiantes,
será usada uma linguagem clara e simples.
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ESTADO RESPIRATÓRIO
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Todo quele que desejar sinceramente desenvolver a
contemplação e atingir a “Introspecçao” (Vipassanã Nãna) durante a sua vida
deve, em primeiro lugar, abandonar todos os pensamentos e ações ligados a vida
mundana enquanto durar o treinamento. Deve também observar, estritamente, as
regras da disciplina (Sila) previstas para leigos e monges, respectivamente.
Estas medidas de purificação do caráter são essenciais como o passo inicial ao
desenvolvimento apropriado da contemplação e têm decisiva importância para
alcançar a “Introspecçao” (Vipassanã Nãna). O discípulo deve ter plena confiança
neste estado de pureza da conduta que o conduzirá até o seu objetivo. Se por
acaso, o discípulo falta com respeito a um Nobre (Arya), ou lhe falta com menos
prezo, ou malícia, ele deve pessoalmente, ou através do seu Instrutor de
Meditação (Kamínatthãna Achariyaj , apresentar o seu pedido de desculpas. Nos
“Comentários” é especialmente recomendado que o discípulo deve ficar confiado
ao Buda durante o período de treinamento. A vantagem desta ação é que ele não
ficará assustado, ou alarmado, caso apareçam visões durante a contemplação. Nos
mesmos “Comentários” é
feita menção também à direta orientação, a cargo do
Instrutor de Meditação (Kammattahãna Achariya). Pode, este último, falar- lhe
francamente sobre o seu trabalho na contemplação e dar-lhe as necessárias
diretivas. Tanto pode o discípulo confiar-se a Buda como, ao mesmo tempo,
confiar-se ao seu Instrutor. Ele deve esforçar-se para seguir a risca as
instruções que recebe. Nirvana (Libertação) é puro e bom. Magga (o Caminho para
o Nirvana) também é puro e bom. Este curso intensivo de treinamento da
contemplação o conduzirá a Magga Nibbãna (Caminho para o Nirvana, Contemplação
e Libertação). O discipulo deve voltar a sua mente para esse grande objetivo,
desejando ardentemente que o seu treino seja feito com muito sucesso.
Cursos intensivos de treinamento da Contemplação
foram feitos, invariavelmente, por muitos Budas e Ariyas que atingiram o
Nirvana. É
motivo de satisfação para o discípulo ter a. mesma oportunidade de palmilhar o
mesmo caminho e participar do mesmo método de treinamento. Com estes
pensamentos animadores, o discípulo deve começar por se devotar inteiramente a
Buda, analisando profundamente as “Nove Principais Características de Buda”. O
discípulo deve dar expansão a toda a sua benevolência, não só para com o seu
espírito protetor, como também para com todos os seres vivos em todo o
Universo. Se for possível, ele poderá até considerar por um momento a sua
condição sempre próxirna da morte e o estado de decomposição que o seu corpo apresentará
após a sua morte.
Para começar os exercícios de treinamento, a melhor
postura é a de pernas cruzadas. O praticante se sentirá mais confortável, se
conservar as pernas suficientemente afastadas para evitar fazer pressão de uma
contra a outra. Para os que não estão habituados a sentar no chão e que poderao
considerar esta posição um empecilho para a concentração, estes deverão
sentar-se da maneira a que estão mais habituados. O praticante deve proceder
durante os exercícios da contemplação de acordo com as seguintes instruções:
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LIÇÕES BÁSICAS PARA OS EXERCÍCIOS DA CONTEMPLAÇÃO
LIÇÃO I - (Começo)
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O praticante deve voltar sua mente para o abdômen.
Ele passará a prestar atenção na “subida” e “descida” do seu abdômen. Se estes
momentos não forem acentuados, o praticante deverá colocar uma ou as duas mãos
sobre o abdômen. Depois de alguns momentes, o movimento provocado com a
inspiração e a expiração, para cima e para baixo, respectivamente, torna-se bem
perceptível. Então, uma nota mental “subindo” para o movimento para cima, e
“descendo”, para o movimento para baixo, deve ser feita cada vez que um destes
movimentos se verifica. Todo o esforço deve ser feito, para se ter a
consciência do momento em que ca da nvimento se efetua.
Poderá parecer à primeira vista que essa espécie de
exercício leva somente ao conhecimento da forma do abdômen e não ao
verdadeiro movimento dele para cima. Não se deve
ficar entregue a estes pensamentos e sim continuar com firmeza a prática. Para
principiante, é este o único método fácil para desenvolver a atenção (Sati) , a
concentração da mente (Samãdhi) e a introspeção (Nãna) na contemplação. A
medida que a prática avança, a maneira do movimento sem a forma se tornará bem
clara. A habilidade para conhecer o processo físico e mental (Nãma-Rupa) , em
sucessão, nos seis orgãos sensoriais, só será adquirida quando a contemplação
(Vipassanã) estiver completanente desenvolvida. Contudo, para o principiante,
cuja atenção (Sati) e a concentração da mente (Samadhi) são ainda fracas, é
difícil fixar a sua mente em cada momento que ocorre, sucessivamente; ele pode
até pensar que se acha em um impasse, por não poder fixar a sua mente em cada
momento, ou ainda, ele pode perder tempo, buscando os objetos da mente. Os
movimentos de “subida” e “descida” estão sempre presentes e não há,
praticamente, necessidade de olhá-los. E muito fácil para o principiante manter
sua mente voltada para estes movimentos. Por tal motivo, esta primeira
explicação se constitui no exercício básico durante este treinamento. Mais
algumas lições sobre os exercícios a serem executados pelo praticante serão
dadas a medida que ele for progredindo. O principiante deve continuar com este
exercício do conhecimento dos movimentos de “subida” e “descida” do abdomen,
através das notas mentais “subindo” e “descendo”, acompanhando o ritmo de cada
movimento, respectivamente. O
principiante não deve pronunciar as palavras “subindo”, “descendo”; a respiração profunda
ou rápida deve ser evitada; se isto for feito, o praticante ficará cansado e
não poderá prosseguir com a prática. É muito importante que esta prática seja
feita sem alterar a respiração normal e natural.
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LIÇÃO II
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Durante o exercício da atenção dos movimentos
“subindo” — “descendo”, outros momentos mentais, intenções, idéias,
imaginações, etc., podem também tornar-se claros entre uma e outra nota mental
(“subindo” — “descendo”). Esses momentos devem ser observados, tão logo se
verifiquem. A nota mental correspondente a cada um deve ser feita
concomitantemente.
ILUSTRAÇÃO
Se o praticante imaginar alguma coisa, a nota
mental será “imaginando”; se es tiver pensando em alguma coisa, a nota mental
será “pensando”; se estiver refletindo — “refletindo”; se tiver uma intenção —
“pretendendo”; se compreender — “coinpreendendo”, e assim por diante. Se por
acaso o praticante sentir que a sua mente divaga do objeto da meditação, a nota
mental será “divagando”, se na sua imaginação
ele for a algum lugar “indo”; se ele chegar “chegando”; se ele encontrar uma
pessoa — “encontrando”; se discutir com ela — “discutindo”; se lhe aparecer a
visão de uma imagem, uma luz, uma cor “vendo”. As notas mentais sobre o que
ocorre devem ser feitas repetidamente, até que todos estes pensamentos passem.
Apôs o desaparecimento dos pensamentos o praticante deve voltar a praticar o
que aprendeu na primeira lição sobre a observação — “subindo” — “descendo”,
regularniente, sem interrupção. Enquanto estiver assim ocupado, se tiver a
intenção de engolir a saliva, deverá ser feita a nota mental “pretendendo”; no
ato de engolir “engolindo”; se tiver a intenção de cuspir “pretendendo”; quando
rea lizar o ato de cuspir “cuspindo”. Em seguida, deve voltar ao exercício da
observação do abdomen — “subindo” — “descando”;se tiver a intenção de inclinar
o pescoço “pretendendo”; no ato de inclinar “inclinando”; se tiver a intenção
de colocar o pescoço erecto — “pretendendo”; ao realizar a ação — “colocando”.
As ações de inclinar e colocar o pescoço na posição erecta devem ser executadas
bem lentamente. Depois destas ações voltar aos exercícios, da observação do
abdômen “subindo” — “descendo”.
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LIÇÃO III
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À medida que o discípulo estiver praticando a
contemplação em determinada postura (sentado ou deitado), por um longo período
de tempo, ele poderá ter uma sensação de cansaço ou de desconforto e
endurecimento das pernas. Nestes casos, ele deve voltar a sua atenção para os
lugares onde se manifestam as sensações mencionadas na contemplação com as
notas — “cansado” — “cansado” — “dormência” — “dormência” de uma maneira
ritmada — nem muito devagar nem muito depressa. Geralmente estas sensações vão
enfraquecendo até desaparecer completamente. Também pode acontecer que estas
mesmas sensações aumentem a tal ponto que se tornem insuportáveis. Nestes casos,
se o praticante resolver mudar de posição, ele tem que fazer primeiro a nota
mental “pretendendo”, “pretendendo”, e, logo em seguida, poderá começar a mudar
a posição contemplando cada detalhe dos movimentos na sua respectiva ordem.
ILUSTRAÇÃO
Se houver a intenção de levantar a mão ou a perna —
“pretendendo” — “pretendendo”; durante o ato de levantar “levantando” —
“levantando”; se houver necessidade de espreguiçar-se “espreguiçando” —
“espreguiçando”; se tiver necessidade de se inclinar — “inclinando” —
“inclinando”; se tiver necessidade de largar alguma coisa — “largando” —
“largando”; se tocar alguma coisa — “tocando” — “tocando”. Todas estas ações
devem ser praticadas lentamente. Tão logo o praticante se encontre na nova
posição, ele deve reiniciar a sua contemplação — “subindo” — “descendo”. Se,
porventura, ele sentir qualquer incômodo nesta nova posição podará proceder de
igual modo.
Se o praticante sentir uma coceira em qualquer
parte do corpo, ele deverá fazer urna nota mental ao mesmo tempo que focalizar
a sua mente no lugar correspondente,dizendo: “coçando” — “coçando”, de uma
maneira regular, nem muito devagar, nem muito depressa. Se a sensação
desaparecer, o praticante deverá voltar à observação dos movimentos do abdômen
— “subindo” — “descendo”. Contudo, se a coceira se tornar insuportável e ele
pretender coçar-se, a nota mental será — “pretendendo” — “pretendendo”, e, em
seguida, levantar a mão com a nota “levantando” — “levantando”, e quando a mão
tocar o lugar “tocando” — “tocando”, e então, ao se coçar, a nota será
“coçando” — “coçando”; ao chegar quase ao fim e pretender terminar de coçar-se,
a nota será “pretendendo” — “pretendendo”, em seguida, ao retirar lentamente a
sua mão, a nota será — “terminando” —
“terminando” e quando ele recolocar a sua mão no seu primitivo lugar a nota
será — “tocando” — “tocando”.
Finalmente, o praticante voltara ao seu exercício inicial — “subindo” —
“descendo”.
Se o praticante sentir outras espécies de sensações
dolorosas, ele deverá manter a sua atenção voltada para elas, fazendo as notas
— “doendo” — “doendo” — “sofrendo” — “sofrendo”, “picando” — “apertando” —
“apertando”, “cansado” — “cansado”, “tonteira” — “tonteira”. Estas notas
mentais devem ser feitas de maneira regular e ritmada. O praticante poderá
sentir que as sensações desapareceram, ou então ele notará que as sensações
dolorosas estarão aumentando, mas ele não deverá ficar impressionado com este
fato, e deverá continuar com a contemplação resolutamente. Se o praticante se
comportar desta maneira, ele vai verificar que a dor cessará. No caso em que as
sensações atinjam a um nível insuportável, ele não deverá prestar atenção a
elas e prosseguir com a contemplação do abdômen — “subindo” — “descendo”.
Em alguns casos, o praticante, tão logo se
verifiquem alguns progressos na prática da atenção total (Samãdhi), poderá
sentir sensações de dor insuportáveis. Algumas vezes aparece uma sensação de
estar engasgado ou de sendo asfixiado; noutras, haverá a sensação de estar
sendo espetado por uma faca ou por um objeto afiado e pontudo, uma sensação de
queimadura em todo o corpo, a sensação de estar sendo picado por agulhas de
pontas muito finas, ou ainda, a sensação de ter uma porção de insetos andando
por todo o corpo. Também ele poderá sentir sensações de frio intenso,
picaduras, mordidas, etc. Assim que o praticante cessar a contemplação, tudo
isto desaparece. Logo que ele retoma a contemplação, e fica em atenção total,
(Samâdhi) elas podem voltar todas, as sensações desagradáveis. Estas sensações
dolorosas não têm caráter sério, nem são qualquer forma de doença; são fatos
comuns e estão sempre presentes no corpo mas, como a mente, em condições
normais, se acha ocupada com assuntos de maior relevância, estas coisas se
passam de uma forma obscura. Com o desenvolver da contemplação, as faculdades
mentais se tornam mais profundas, o praticante fica numa posição de ter
consciência destas sensações, não havendo, portanto, motivo para preocupação. O
praticante deve prosseguir firmemente com a contemplação destas sensações
dolorosas até que ele as supere e até que elas cessem. Assim procedendo, nenhum
dano ele sofrerá. Se o praticante se intimida e vacila, parando a contemplação,
ele vai reencontrá-las tão logo esteja desenvolvida a contemplação. Se, pelo
contrário, ele prosseguir com a prática da contemplação, vencerá essas
sensações dolorosas para sempre.
Se o praticante desejar balançar o corpo, deverá
anotar — “pretendendo” — “pretendendo”, e no ato de balançar — “balançando” —
“balançando”. Em certas ocasiões podera acontecer que o praticante se
surpreenda balançando o corpo para direita e esquerda, mas isto não deve ser
motivo de preocupação. Entretanto, ele não deve sentir nenhuma satisfação nisso
e desejar que esse fato se repita. Ao mesmo tempo, ele deve saber que, se tiver
a mente voltada para este balanço, o mesmo cessará automaticamente. Ele poderá
anotar — “balançando” — “balançando”, de uma maneira normal e ritmada, até que
cesse. Se o balanço continuar com intensidade, a despeito da nota mental, ele
deve se encostar na parede, deitar-se na cama e continuar com a contemplação.
Se tiver tremuras, deve proceder da mesma maneira. À medida que se desenvolve a
contemplação poderão surgir, de vez em quando, estremecimentos, ou, ainda, pode
aparecer um arrepio que passa pelas costas, ou mesmo pelo corpo todo. Isto nada
mais é que uma sensação de interesse e de prazer (Piti) e que naturalmente,
ocorre durante a contemplação, quando ela é bem feita. Quando a atenção está
fixa na contemplação pode-se ser sobressaltado, ao menor som. Isto acontece
porque o praticante se acha apegado a impressões sensoriais (Phassa) durante o
seu estado de concentração. O praticante deve fazer uma nota mental sobre a sua
intenção de mudar a posição dc seu corpo, ou das suas pernas e braços, assim
procedendo em todas as fases do movimento, vagarosamente. Se aparecer sede a
nota mental é “sedento” — “sedento”; se tiver a intenção de levantar-se, a nota
é “pretendendo” — “pretendendo”; e até completar o ato de levantar-se, todos os
movimentos nos menores detalhes devem ser acompanhados da nota — “levantando” —
“levantando” até completar o movimento e poder fazer a nota — “de pé”, quando
olhar para frente — “olhando” — “olhando”; quando decidir continuar a andar —
“pretendendo” — “pretendendo”; quando começar a andar, a nota é ” — “andando” —
“andando”, ou então “esquerda” — “direita”. Durante a caminhada é muito
importante ter consciência de todos os momentos em cada passo, do princípio ao
fim.
Quando o praticante está dando um passeio ou
fazendo exercícios andando deve executar duas notas mentais, alternadas
“levantando - baixando” — “levantando - bai xando”. A medida que ele adquirir
prática suficiente deste método, uma nota mental em três partes poderá ser
feita para cada passo, assim: “para cima” — “para frente” — “para baixo”.
Quando ele depara com o depósito de água, ao chegar
perto, a nota é: “vendo” — “vendo”; quando parar — “parando”; quando estender a
mão “estendendo”; quando tocar o copo — “tocando”; quando pegar o copo —
“pegando” quando a mão mergulha o copo na água — “mergulhando”; quando a mão
traz o copo à bôca — “trazendo”; quando o copo toca os lábios — “tocando”;
quando ele sente o frio, ao tocar a água a sua bôca, — “frio”; ao engolir,
“engolindo” — “engolindo”; quando devolver o copo — “devolvendo” — “devol
vendo”; quando retirar a mão — “retirando” — “retirando”; quando deixar cair a
mão “caindo” — “caindo”; quando a sua mão, ao cair, tocar o lado do corpo —
“tocando” — “tocando”; quando pretende voltar “pretendendo” — “pretendendo”;
quando dá a volta — “voltando” — “voltando”; quando começa a caminhar — “caminhando”
— “caminhando”; chegando ao lugar onde tem a intenção de parar — “pretendendo”
— “pretendendo”; quando pára — “parando” — “parando”. Se ele ficar de pé por
alguns instantes, deverá continuar com a contemplação — “subindo” — “descendo”.
Se tiver a intenção de sentar-se — “pretendendo”; quando se dirige para o lugar
onde deve sentar-se — “andando” — “andando”; quando chega ao lugar —
“chegando”; quando se volta para sentar-se — “vi rando” — “virando”. Ele deve
sentar-se lentamente com toda a sua atenção voltada ao movimento para baixo. Ao
colocar pés e mãos na posição devem ser feitas notas mentais. Deverá continuar
com a contemplação — “subindo” — “descendo”.
Quando ele tem a intenção de deitar-se a nota é —
“pretendendo”; todas as ações ligadas ao movimento de deitar-se devem ser
contempladas com as notas: “levantando - levantando”, “distendendo -
distendendo”; “recostando - recostando”; quando estiver já deitado “repousando
- repousando” quando o corpo tocar o travesseiro — “tocando - tocando”. A contemplação
dos movi mentos de todas as ações para colocar as mãos, as pernas e todo corpo
em posição deve continuar. Todos os movimentos relativos a estas posições devem
ser executados vagarosamente. Voltará, então, a contemplação do abdômen —
“subindo - descendo”. Se sentir qualquer sensação, deverá fazer a nota mental
correspondente, como já foi explicado anteriormente. A contemplação de todas as
ações já descritas, ou de quaisquer outras, poderá ser feita da mesma maneira
que se faz na postura sentada. No caso em que não haja nenhuma nota mental a
fazer, o praticante deve voltar a contemplação “subindo” — “descendo”; se
sentir sono a nota é “sonolento” — “sonolento”. Quando o praticante adquire a
concentração suficiente na contemplação, verificará que a sonolência desaparece
e ele vai sentirse bem. Deve, então voltar a contemplação — “subindo” —
“descendo”. Se acontecer que ele não possa vencer a sonolência, deverá
continuar com a sua contemplação até adormecer.
O sono nada mais e do que a continuação do estado
de subconsciência (Bhavanga). É semelhante ao primeiro estado de renascimento
da consciência e ao último estado de consciência no momento da morte. Este
estado de consciência é fraco e não tem capacidade para reconhecer qualquer
objeto. Durante o estado de vigília, este estado de subconsciência (Bhavanga)
ocorre, regularmente, nos espaços de tempo entre: ver, ouvir, pensar, etc. Como
estes estados de subconsciência (Bhavanga) têm breve duração, não são claros e
geralmente passam despercebidos. Este estado de subconsciência (Bhavanga) se
prolonga durante o sono; eis por que, durante o sono, não se pode praticar a
contemplação.
Ao acordar, o praticante deve iniciar,
imediatamente, a contemplaçao com a nota mental — “despertando” —
“despertando”. Para o principiante, talvez não seja possível começar no
primeiro momento após o despertar, contudo ele deve dar início tão logo lhe
venha à lembrança a prática da contemplação. Por exemplo, se ele começar a
refletir sobre qualquer assunto, dará início à contemplação, com a nota —
“refletindo” — “refletindo”. Em seguida, dará continuidade a contemplação —
“subindo” — “descendo”. Todos os movimentos do corpo, ou seja, virar-se,
inclinar-se, espreguiçar-se, etc. devem ser contemplados. Se o pensanento a
respeito da hora vier à mente, a nota será — “pensando” — “pensando”; se tiver
a intenção de levantar-se, a nota será — “pretendendo” — “pretendendo”; quando
se preparar para levantar — “preparando” — “preparando”; quando começar
lentamente o movimento de levantar — “levantando” — “levantando”; quando voltar
a posição sentada — “sentando” — “sentando”;
se permanecer na posição sentada deverá continuar a contemplação —
“subindo” — “descendo”.
Quando o praticante estiver lavando o rosto ou
tomando banho deve praticar a contemplação de todos os movimentos
correspondentes a todas as ações na sua ordem, tais como: “olhando” — “pegando”
— “mergulhando” — “derramando água” — “sentindo frio” — “esfregando”, etc.
Enquanto estiver se vestindo, ou arrumando a cama, fechando ou abrindo a porta,
pegando ou largando qualquer coisa, deve estar completamente empenhado na
contemplação de todos os pormenores destas ações. Tarnbém deve estar muito
atento na contemplação na hora da refeição, começando com a nota — “vendo”; ao
arrumar a refeição no prato — “arrumando” — “arrumando”; quando traz o alimento
à boca — “trazendo”; quando inclina a cabeça — “inclinando”; quando o alimento
toca os lábios — “tocando”; quando coloca o alimento na boca — “colocando”;
quando fecha a boca — “fechando”; quando retira suas mãos — “retirando”; quando
as suas mãos tocam o prato — “tocando”; quando estica o pescoço — “esticando” —
“esticando”; quando mastiga — “mastigando” — “mastigando”; quando sente o gosto
do alimento — “provando” — “provando”; quando engole o alimento ” — “engolindo”
— “engolindo”; quando o alimento toca os lados da garganta — “tocando” —
“tocando”. Assim, deverá continuar a contemplação durante a refeição, até o seu
final. No começo da prática haverá muitas omissões mas o praticante deve
continuar sem desânimo. A medida que a prática se desenvolve haverá um menor
número de omissões. Com a continuação da prática o praticante ficará capacitado
a perceber ainda maiores detalhes do que foi aqui mencionado.
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PROGRESSOS NA CONTEMPLAÇÃO
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Depois de um dia e uma noite de prática, o
discípulo verificará que um considerável progresso foi feito; assim, poderá
prosseguir com a observaço dos movimentos do abdômen — “subindo” — “descendo”.
Ele irá observar que há uma lacuna entre os movimentos — “subindo” e
“descendo”. Se se achar na postura sentada poderá preencher a lacuna com a nota
mental — “sentindo” — “descendo” — “sentindo” — “sentindo” — “subindo” —
“sentindo”... Enquanto for feita a nota mental “sentindo” deve manter a sua
mente na posição ereta de seu corpo. Se se encontrar na postura deitada, deverá
proceder assim — “deitado” — “subindo” — “descendo” — “deitado” — “subindo” —
“descendo” — “deitado”. Se ainda houver facilidade de fazer uma nota mental em
três etapas e, se se verificar uma lacuna no fim da nota “levantando”, bem como
no fim da nota “descendo”, poderão ser feitas as seguintes notas: “levantando”
— “sentindo” (ou deitado) , — “descendo” — “sentindo” (ou deitado). Tão logo
apareça alguma dificuldade em fazer uma nota em três ou quatro etapas, o
praticante deve voltar a nota em duas etapas — “subindo” — “descendo”.
Enquanto o praticante se acha empenha do no seu
modo usual de contemplação, qualquer movimento do seu corpo ou qualquer objeto
que ele veja, ou qualquer som que ele ouça, não devem preocupá-lo de modo
algum. Desde que a mente fique atenta aos movimentos — “subindo” — “descendo”,
fica bem claro que ela também está atenta para ver e ouvir, mas se o praticante
olhar deliberadamente para um objeto deverá fazer, duas ou três vezes, a nota —
“vendo”, e logo em seguida, continuar com a contemplação “subindo” — “descendo”.
Se qualquer pessoa, do sexo feminino ou masculino, aparecer, a nota será —
“vendo”, duas ou três vezes. Em seguida, voltar a contemplação — “subindo” —
“descendo”. Se ouvir alguma voz a nota será, duas ou três vezes — “ouvindo’’ e
voltar a primitiva contemplação — “subindo” — “descendo”. Se ocorrer barulho de
vozes muito altas, latidos de cão, cantos, etc., a nota mental a ser feita duas
ou três vezes e — “ouvindo”. Logo após, voltar a contemplação do abdômen —
“subindo” — “descendo”. Se não for possivel contemplar visões ou vozes, poderá
acontecer que o praticante se perca em reflexões a respeito dessas coisas, ao
invés de continuar com a contemplação — “subindo” — “descendo” intensamente e,
nessas condições, a contemplação se tornará menos distinta e menos clara. Desta
maneira, os vícios da mente (Kilesas) são estimulados e difundidos. Se
reflexoes desta natureza ocorrem, a meta mental será — “refletindo”, duas ou
três vezes e voltar a contemplação. Se ocorrer alguma omissão da nota mental em
relação a qualquer movimento a nota será — “esquecendo”, e, em seguida voltar à
contemplação usual. Algumas vezes poderá parecer que a respiração enfraqueceu e
que os movimentos — “subindo” — “descendo” são fracos e não bem definidos.
Nestes casos, na postura deitada, a nota será — “jazendo” — “tocando” e, na
postura sentada, a nota será ” — “sentando” — “tocando”. Durante a contemplação
— “tocando” — a mente não deve ficar presa a um só lugar, mas em diferentes
lugares, pelo menos em seis ou sete, sucessivamente.
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LIÇÃO IV
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Depois de algum tempo de treinamento, o praticante
poderá sentir preguiça por não sentir nenhum progresso real no seu trabalho
então a nota será: — “preguiçoso” — “preguiçoso”. Antes que o praticante
adquira a capacidade na atenção total (Sati), a agudeza da mente (Samãdhi) e a
introspeção (Nãna) poderá cair em dúvida sobre o acerto do método de
treinamento e sua utilidade. Nestes casos, a nota mental será — “duvidando” —
“duvidando”. Nas ocasiões em que o praticante espera bons resultados, deve
prosseguir com a contemplação e a nota será ” — “esperando” — “desejando”.
Algumas vezes ocorrera o pensamento de como o praticante vem desenvolvendo o
seu treinamento e nestes casos a nota será — “lembrando” — “pensando”. De vez
em quando, ele se empenhará examinando qual é o objeto da contemplação,
se a matéria (Rupa) ou a mente (Nãna), e então a
nota mental será “examinando” — “examinando”. Haverá momentos em que o
praticante se sentirá triste porque não vê nenhum progresso em sua
contemplação, então, a nota mental será “triste” — “triste”. De outra feita,
sentir-se-á feliz, porque pensa que está fazendo progressos na sua
contemplação, e, neste caso, a nota mental será “feliz”. Desta maneira, deverá
ser feita uma nota mental para cada momento que ocorra e voltar sempre para a
contemplação habitual — “subindo” — “descendo”.
O período da contemplação transcorre do mo mento em
que o praticante acorda até ao momento que adormece. Desta forma, o praticante
se mantém incessantemente ocupado com a contemplação, através do dia e da
noite. Não deve haver a perda de um segundo sequer. Com o decorrer da prática o
discípulo não se sentirá sonolento e será capaz de praticar a contemplação dia
e noite.
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SUMÁRIO DAS LIÇÕES
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O praticante deve contemplar todos os momentos
mentais tão logo ocorram, sejam eles bons ou maus. Todos os movimentos do
corpo, mesmo os menores, devem ser contemplados. Todas as sensações, agradáveis
e desagradáveis, devem ser contempladas. Todos os objetos mentais ou impressões
devem ser contemplados. Se não surgir nenhum motivo especial o discípulo deve
prosseguir com a contemplação — “subindo” — “descendo”. Se houver necessidade
de executar qualquer tarefa, o praticante deve contemplar cada passo com a nota
— “caminhando” — “caminhando” — ou então, “esquerda” — “direita”. Quando se
achar em exercício, o praticante deve contemplar cada passo com urna nota
mental em três etapas — “para cima” — “para frente” — “para baixo”. O
praticante que se empenhar na contemplação dia e noite, ficará habilitado a
desenvolver a sua concentração para alcançar o ambicionado estado inicial dos
quatro estágios da introspecção (UDAYABAYA NÃNA) dentro de um tempo
relativamente curto.